cultura, mídia e política: 2013

23 de outubro de 2013

Índios: os ruralistas contra-atacam

Indígenas protestando em Brasília. Mais de 100 etnias estiveram presente. [Foto: Marcelo Ferreira. E.A.Press]
Depois de fugirem de Brasília durante a Semana de Mobilização Indígena, eles já se atiçam, no Congresso. Guaranis prometem novas ações
O chamado da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) levou milhares de pessoas às ruas para protestar, na semana de Mobilização Nacional Indígena, em pelo menos dez cidades do país e fora dele, em Londres. Durante cinco dias, representantes de mais de cem etnias ficaram acampados em frente ao Congresso Nacional, em Brasília – cenas que não se viam desde a Constituinte.
Não se sabe ainda até que ponto a Semana de Mobilização Indígena alterou a correlação de forças políticas. Antes mesmo da chegada dos indígenas a Brasília, em 1º/10, os ruralistas já tinham desaparecido do Congresso e as atividades relacionadas à questão indígena haviam sido canceladas pelo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Ao final da semana, porém, já em 9/10, fizeram nova ofensiva. Para exigir a votação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215 (que transfere o poder de decisão sobre a demarcação de terras indígenas da Fundação Nacional do Índio ao Congresso Nacional), a bancada tentou obstruir a votação da MP do Programa Mais Médicos, de interesse do governo federal. Não funcionou: a MP foi aprovada.

Finlândia: a melhor educação do mundo é 100% estatal, gratuita e universal

A Finlândia tem a melhor educação do mundo. Lá todas as crianças tem direito ao mesmo ensino, seja o filho do empresário ou o filho do garçom. Todas as escolas são públicas-estatais, eficientes, profissionalizadas. Todos os professores são servidores públicos, ganham bem e são estimulados e reconhecidos. Nas escolas há serviços de saúde e alimentação, tudo gratuito.
Na Finlândia a internet é um direito de todos.
A Finlândia se destaca em tecnologia mais do que os Estados Unidos da América.
Sim, na Finlândia se paga bastante imposto: 50% do PIB.

22 de outubro de 2013

Quanto a União receberá do lucro do petróleo do pré-sal?

Com base em estudo disponível no sítio da fazenda nacional (clique aqui para acessar a íntegra) é possível indicar que o percentual do lucro que ficará com a União federal no regime de partilha é pelo menos 12 pontos percentuais ( aproximadamente 80 bi de dólares ) maior do que o cenário do regime de concessões para campos com grande produção em águas profundas - sendo que o percentual tende a piorar com valores maiores do barril ( tabela 1 ) . E no mundo trata-se do terceiro melhor regime em termos de remuneração governamental, com 69 %, só perde para o modelo chinês e Venezuelano, igualando-se ao Russo (tabela 2 ). E levando-se em conta o dividendo da Petrobras a que tem direito o governo a participação aumenta para 76 %, a segunda melhor do mundo.



Parto humanizado: protagonismo e amor sem dor

Em São Paulo. [Foto: Yuri Catelli /UOL]

Manifestações no fim-de-semana denunciaram modelo obstétrico atual: ele criminaliza profissionais que deixam à mãe o poder de parir

No último sábado, centenas de mulheres, homens e crianças foram às ruas do país para falar de algo que, como tantas outras lutas sociais, permaneceu silenciado e criminalizado pelo Estado: a humanização do parto. Barrigas pintadas, sorrisos desmaquiados e peitos amamentando revelavam mulheres-mães que não tinham medo de mostrar uma íntima escolha, o ato e o poder de parir.

Polícia: para quê polícia?


Por que respostas da PM e governos, diante das manifestações e “black-blocs”, sugerem desejo de fechamento autoritário

Sob o amplo vão do Museu de Arte de São Paulo (Masp), um jovem conversa com um major da Polícia Militar (PM). Eles discutem a respeito do trajeto a ser seguido pelos manifestantes reunidos no local, que dali a pouco realizarão mais um protesto na capital paulista, centro difusor das grandes manifestações ocorridas em junho no País. É meados de agosto e o major da PM quer saber por onde eles pretendem seguir. “Não sabemos”, responde o militante. “Os manifestantes vão decidir na hora por onde ir”. “Não queremos vandalismo, queremos uma manifestação ordeira”, diz o policial. “Nós também. Vamos caminhar no meio da rua, se alguém sair para praticar alguma depredação, aí é com ele, não temos responsabilidade sobre ninguém”, rebate o manifestante. “Mas então vocês nos apontam quem fizer algo errado”, sugere o PM, já cercado por mascarados vestidos de preto interessados na conversa. “Nós não vamos indicar nada, não estamos aqui para entregar ninguém”, é a resposta dada ao policial. “Vocês façam o seu trabalho de forma focada, sem dispersar a manifestação com gás ou tiro de borracha”. “Mas vocês têm de estar atentos… Vejam o que está acontecendo no Egito…”, argumenta o PM. A essa altura, mais atrás, outro manifestante diz em tom alto: “Qual é a brisa do Egito aí? Tá insinuando que a manifestação pode acabar com 600 mortos?” A referência ao país do Oriente Médio parece mesmo absurda. No dia anterior, conflitos ocorridos entre policiais e simpatizantes do presidente deposto por meio de um golpe, Mohammed Morsi, deixaram mais de 630 mortos em várias cidades egípcias.

Quase tudo sobre o leilão de Libra

Cinco pontos explicam novo modelo exploratório do pré-sal

 leilão do campo de Libra foi o primeiro a ser realizado sob vigência do novo marco regulatório para a exploração petrolífera no Brasil.
Saiu vencedor o consórcio formado pela francesa Total, pela americana Shell, pelas chinesas CNPB e CNOOC, e pela Petrobrás, após um leilão marcado por protestos.
Protesto na frente da sede da Petrobras
Aprovado em 2010 para o desenvolvimento das reservas do pré-sal, o novo modelo substituiu o regime de concessões pelo regime de produção partilhada.
O modelo garante uma participação ampla da Petrobras e de entes estatais na exploração dos poços, ainda que em parceria com empresas privadas.

21 de outubro de 2013

As lutas do mundo

Em Moçambique, Chile ou Brasil, a solidariedade internacional é importantes para fortalecer a resistência contra megaprojetos feitos sem consulta às populações.

O meu trabalho profissional leva-me a viajar por vários países. As experiências que colho, não podendo confirmar ou infirmar as hipóteses de trabalho que orientam o meu trabalho científico, dão-me informações preciosas sobre o pulsar do mundo, sujeito a pressões globais, mas de modo nenhum unívoco nas repostas que lhes dá. A pretensa ausência de alternativas para problemas ou conflitos concretos num dado país não passa de um argumento útil a quem está no poder e nele se quer perpetuar.
 
No passado mês de Julho, pude conviver de perto com os camponeses moçambicanos em luta contra a atividade mineira e os projetos agroindustriais que os expulsam das suas terras e os realojam em condições sub-humanas, destroem a agricultura familiar que em grande medida alimenta a população, contaminam as águas dos rios, destroem os seus cemitérios, e frequentemente os submetem a repressão policial violenta. Tudo em nome do progresso e do crescimento econômico, mas de facto apenas para permitir lucros escandalosos às empresas multinacionais envolvidas (muitas delas brasileiras) e rendas parasitas às elites político-econômicas locais.
 
Os contatos entre camponeses moçambicanos e brasileiros foram cruciais para fortalecer a sua luta através da solidariedade internacional e alimentar a esperança de que a resistência possa ter êxito.

DITADOS POPULARES E SEUS SIGNIFICADOS – SEGUNDO CASCUDO


Muitas vezes usamos certas expressões, mas não temos ideia do que elas significam.
São ditados ou termos populares que através dos anos permaneceram sempre iguais, significando exemplos morais, filosóficos e religiosos.
Tanto os provérbios quanto os ditados populares constituem uma parte importante de cada cultura.
Historiadores e escritores sempre tentaram descobrir a origem dessa riqueza cultural, mas essa tarefa nunca foi nada fácil.
O grande escritor Luís da Câmara Cascudo já dizia que: “os ditados populares sempre estiveram presentes ao longo de toda a História da humanidade”. No Brasil isso não é nenhuma novidade. Muitas vezes ocorrem expressões tão estranhas e sem sentido, mas que são muito importantes para a nossa cultura popular.

18 de outubro de 2013

América Latina: 23,5 milhões de indígenas são afetadas pelas desigualdades étnicas e de gênero

Menos de 15% das jovens de 20 a 29 anos conseguiram terminar o nível escolar secundário em 7 dos 9 países analisados

Novo estudo da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) afirma que existem mais de 670 povos indígenas reconhecidos pelos nove Estados analisados e que ao menos 23,5 milhões de mulheres são afetadas pelas desigualdades étnicas e de gênero.
ONU
O documento Mulheres indígenas na América Latina: dinâmicasdemográficas e sociais no âmbito dos direitos humanos foi apresentado durante a XII Conferência Regional sobre a Mulher da América Latina e do Caribe, realizada nexta sexta-feira (18/10) em Santo Domingo, República Dominicana.
O relatório avalia a situação das mulheres indígenas no Brasil, Colômbia, Costa Rica, Equador, México, Nicarágua, Panamá, Peru e Uruguai. O estudo indica que as mulheres indígenas têm capacidades e potencialidades para agir como agentes de mudança e geradoras de bem-estar e de desenvolvimento sustentável de seus povos, mas sofrem discriminações de caráter econômico, étnico, de classe e de gênero, que se manifestam em múltiplas vulnerabilidades.

17 de outubro de 2013

Ocupação norte-americana matou cerca de meio milhão de pessoas no Iraque

Estimativa de nova pesquisa é quatro vezes maior do que cálculos realizados anteriormente sobre o período de 2003 a 2011

Cerca de 460 mil pessoas morreram entre os anos de 2003 e 2011 no Iraque por conta da guerra e ocupação norte-americana do país. A estimativa é resultado de uma pesquisa conduzida por estudiosos de diversas universidades sobre a taxa de mortalidade na nação árabe divulgada nesta quarta-feira (16/10) pela revista de medicina PLOS (Livraria Publica de Ciência na tradução livre do português).

Família iraquiana caminha em praça de Bagdá onde, pelo menos sete pessoas foram mortas e 34 ficaram feridas, em maio passado / Agência Efe

O Complexo de Sansão

Wallerstein sustenta: crise do sistema-mundo capitalista produz divisão rara entre poderosos e gera enorme instabilidade. Será preciso definir projetos alternativos
Por Immanuel Wallerstein | Imagem: Francisco Goya, Duelo com porretes (1823, detalhe) | Tradução: Antonio Martins
Na Bíblia, há a famosa lenda do herói Sansão. São muitas as interpretações sobre seu significado; mas Sansão, um israelita cuja força era originária de Deus, põe abaixo o templo os inimigos filisteus (também muito poderosos), morrendo no processo. Seu sentido, imagino, é dizer que um ato aparentemente irracional (Sansão morre) pode ser ao mesmo tempo heróico e inteligente, porque se converte na saída (possivelmente a única) para derrotar um inimigo forte e “salvar seu povo”.

16 de outubro de 2013

Papa Francisco e a despaganização do papado

O Papa Francisco fala a partir desta originária e mais antiga Tradição, a de Jesus e dos Apóstolos. Por isso desestabiliza os conservadores que ficaram sem argumentos.

Ipea: cada R$ 1 gasto com Bolsa Família adiciona R$ 1,78 ao PIB

O Bolsa Família tem um dos menores custos entre os chamados programas de transferências sociais, mas é o que tem o maior efeito multiplicador sobre a economia, de acordo com dados apresentados nesta terça-feira, 15, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), durante balanço dos dez anos da iniciativa.
Para o ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) e presidente do Ipea, Marcelo Neri, um dos principais atributos do programa é seu bom custo-benefício. Os gastos com o Bolsa Família representam apenas 0,4% do Produto Interno Bruto (PIB), mas cada R$ 1 gasto com o programa “gira” R$ 2,4 no consumo das famílias e adiciona R$ 1,78 no PIB.
Para efeito de comparação, em outro programa de transferência, o Benefício de Prestação Continuada (BPC) é gasto 0,6% do PIB, com geração de R$ 1,54 em consumo e R$ 1,19 no PIB. O seguro-desemprego, cujos gastos alcançam também 0,6% do PIB, rende R$ 1,34 em consumo e R$ 1,09 no PIB.

Miséria reduzida

Do jornal O Globo:
Um estudo divulgado nesta terça-feira pelo Instituto de Pesquisa Econômica  Aplicada (Ipea) estima que o Bolsa Família tenha reduzido a pobreza extrema  brasileira em 28%, no ano passado. De acordo com o levantamento, o percentual de  miseráveis, que era de 3,6%, subiria para 4,9%, caso o Bolsa Família não  existisse.
A estimativa utiliza a linha oficial de pobreza extrema, que classifica como  miserável quem sobrevive com renda per capita de até R$ 70 por mês. O cálculo  foi feito com base na última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad  2012), do IBGE.

15 de outubro de 2013

Como empresas privadas de tecnologia coletam dados sobre você

O que o FBI faz hoje é pequeno comparado ao que a NSA sonha em fazer: adquirir e armazenar o tráfego de dados não só de uma nação, mas do planeta todo
Por Pratap Chatterjee, do TomDispatch.com. Via AlterNet. Tradução de Isadora Otoni
O Grande Irmão está te vigiando. Dentro do seu celular e escondido por trás do seu navegador na internet estão os pouco conhecidos produtos de software, comercializados por pessoas contratadas pelo governo, e que podem te seguir por qualquer lugar. Não são mais fantasias de teóricos da conspiração, essas tecnologias são rotineiramente instaladas em todos os seus dispositivos de dados por companhias que os vendem para Washington.
Isso não é o que eles dizem que estão vendendo, é claro. Não, a mensagem é muito mais sedutora: Dados, como costuma dizer o Vale do Silício, é o novo petróleo. E a mensagem do Vale é clara o suficiente: nós podemos transformar suas informações digitais em combustível por prazer e lucro – se você nos der apenas acesso a sua localização, a sua correspondência, a sua história e ao seu entretenimento favorito.

Homem de Ferro, herói do Capitalismo

Não é segredo para ninguém que a criação de super-heróis tem uma motivação ideológica, como, aliás, praticamente tudo feito por pessoas. Nós, assim como os super-heróis, não existimos no vácuo; as coisas que dizemos ou os vilões que eles enfrentam têm relação direta com a nossa cultura e oferecem um retrato bem posicionado no espaço e no tempo sobre o mundo ao nosso redor.




E o Homem de Ferro diz muito sobre a sociedade que o criou. Ele consegue representar mais nitidamente os valores norte-americanos do que o próprio Capitão América, e nem precisa da bandeira dos Estados Unidos pintada no peito para conseguir isso. Não estou exagerando tanto assim. É só lembrar de como e quando ele surgiu. Os fãs que fizeram o dever de casa sabem que o Homem de Ferro foi criado por Stan Lee e Jack Kirby em 1963, e que sua primeira aparição foi em Tales of Suspense #39, com o traço do artista Don Heck.
Bem, e daí? E daí que a época era de Guerra Fria. Estados Unidos de um lado e União Soviética do outro. Um período tenso, marcado por espionagem, trocação de farpas e muita propaganda política. E propaganda funciona assim: você pega um produto marromeno e apresenta ele de forma legal. No caso, os “produtos” concorrentes eram o capitalismo de um lado, o socialismo e o comunismo do outro.
É aí onde entram os quadrinhos, que funcionaram muito bem como propaganda.

14 de outubro de 2013

“Cidade com desigualdade é um inferno”

O principal problema das grandes cidades é a desigualdade social, que faz do mesmo território um espaço distinto para as diferentes classes sociais. As contradições dentro de uma mesma cidade levam ao sentimento de desencanto, que está na raiz das mobilizações que tomaram o país em junho.

13 de outubro de 2013

Pepe Mujica deu um soco no estômago do mundo inteiro

Como Internet livre está ameaçada entre nós

Interessadas em reduzir rede a negócio, empresas telecom  tentam deformar “Marco Civil”, lei que garante liberdade. Ministério das Comunicações compactua
O sociólogo Sérgio Amadeu da Silveira tem sido um dos especialistas mais acionados para ajudar a explicar a força das redes sociais na articulação das recentes formas de manifestação política no Brasil e no mundo. Amadeu, além de expert em sua área, em que combina a ciência política e a tecnologia da informação, é antes de tudo um ativista da democracia. No governo de Marta Suplicy na prefeitura de São Paulo, trabalhou pela implementação de mais de uma centena de telecentros, até então uma das mais inovadoras políticas públicas de inclusão digital.
Militante e estudioso dos softwares livres, presidiu o Instituto Nacional de Tecnologia da Informação da Casa Civil da Presidência da República, onde desenvolveu ações de inclusão digital e de estímulo ao uso de softwares livres na máquina federal. Nos últimos anos, acompanhou de perto o crescimento da insatisfação de diversos coletivos sociais com as ações governamentais nas áreas da cultura, ambiental e das comunicações – por isso diz não ter se surpreendido com os protesto de junho.
Representante da sociedade no Comitê Gestor da Internet (CGI), é defensor rigoroso do projeto de Marco Civil da internet que está próximo de ser votado no Congresso Nacional. Porém, depois de ser elaborado dentro do CGI e de incluir ampla participação da sociedade, o Marco Civil sofre com um lobby da grandes empresas de telecomunicações, que ameaçam, segundo ele, a liberdade, a criatividade e a privacidade dos usuários da rede.
No último dia 16, Amadeu visitou a redação da RBA e concedeu esta entrevista. Ele critica ferozmente a atuação do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, por ter se tornado “um lobista” das teles. E chama a atenção dos movimentos sociais: que estejam atentos para defender o Marco Civil; e que entendam o novo das redes em seu papel na mobilização e na tomada de decisões da sociedade.

Afasta de nós esse cale-se

Grupo que tenta cercear biografias se esquece de que figuras públicas não têm vida privada


Nem todas as atenções dos últimos dias se concentraram nas bodas de Marina e Eduardo e na avaliação das razias dos black blocs. Nas mídias e conversas, as dúvidas e controvérsias geradas pela adesão de Marina ao PSB e o racha entre os que apoiam e execram a ação dos nossos squadristi mascarados tiveram de dividir o proscênio com duas celeumas envolvendo escritores e artistas.
A segunda celeuma, a rigor, não eclodiu em Frankfurt, mas lá encontrou uma providencial câmara de eco. De um lado, sete músicos (Caetano Veloso, Chico Buarque, Roberto e Erasmo Carlos, Gilberto Gil, Milton Nascimento e Djavan) tentando impor limites à produção de biografias não autorizadas; de outro, um vasto contingente de biógrafos, escritores, editores, intelectuais, atores e mesmo músicos contrários a qualquer obstáculo que possa inibir ou restringir a liberdade de expressão. A cisão não é recente, mas atingiu seu ponto de ebulição no fim da semana retrasada, com uma entrevista da empresária e ex-mulher de Caetano Paula Lavigne, ideóloga e líder da cruzada contra o livre exercício do biografismo. Partindo do princípio de que o Código Civil protege igualmente o público e o privado, ela e seus templários reivindicam uma compatibilização do direito constitucional à liberdade de expressão com o direito à "inviolabilidade da vida privada e da intimidade", como se isso fosse exequível sem ferir, com letais consequências, o princípio maior da livre manifestação do pensamento.

Ed Ferreira/Estadão
Caetano & cia. defenderam a ditadura do livro chapa-branca
Ambas tiveram como palco privilegiado a Feira de Livros de Frankfurt, na Alemanha, onde o Brasil foi homenageado ao custo de R$ 18,9 milhões aos cofres públicos ("Se os empresários do mercado editorial brasileiro precisassem da homenagem da feira, poderiam recebê-la, com o dinheiro deles", criticou o comentarista político Elio Gaspari, que também sugeriu que se aplicasse a dinheirama da viúva na restauração da Biblioteca Nacional). A comitiva brasileira mal tivera tempo de curtir a maioria dos estandes da Buchmesse quando os escritores Paulo Coelho e Paulo Lins questionaram a representatividade do grupo de autores selecionados pelo governo brasileiro. Coelho exigia a presença de mais ficcionistas best-sellers e, indignado, desembarcou do "trem da alegria". Lins criticou a ausência de outros autores negros, mas permaneceu em seu vagão.

Papa discretamente recebe o líder da Teologia da Libertação

Gustavo Gutierrez

O papa Francisco recebeu discretamente no Vaticano, há cerca de um mês, a visita do principal líder da Teologia da Libertação, o religioso peruano Gustavo Gutierrez. Integrante da Ordem Dominicana, o padre Gustavo tornou-se, nos anos 70, o primeiro teólogo a sistematizar essa corrente no interior da Igreja Católica Romana. A sua visita ao Papa aconteceu de modo informal, fora da agenda oficial do pontífice. Contudo o significado político dessa reunião é evidente e representa o apoio explícito dos teólogos da libertação à opção pelos pobres, já oficializada por Francisco como a diretriz fundamental de sua gestão como chefe da Igreja.


O apoio ao atual Papa vem sendo articulado desde antes da eleição vaticana. Quando o nome do cardeal Bergoglio foi anunciado, bispos. teólogos e outras personalidades ligadas à Teologia da Libertação deram publicamente declarações em que afirmavam a sua expectativa de uma administração que pudesse tirar o Catolicismo de sua pior crise desde o século 19.

12 de outubro de 2013

Um discurso histórico: Luiz Ruffato na Feira de Frankfurt, 2013

Eu sei, foi um dos principais assuntos da semana passada, mas quero sublinhar aqui. O escritor mineiro Luiz Ruffato foi o primeiro brasileiro a discursar na Feira do Livro de Frankfurt, na Alemanha, o maior evento do mercado editorial mundial. No evento, que começou na terça passada, o Brasil entrava com louros de homenageado. Mas Luiz não se fez de rogado e emendou um discurso emocionante e épico, arregalando os olhos dos gringos para a série de problemas que ainda nos afligem no Brasil. Um discurso excessivamente sóbrio e sem eufemismos, que expôs didaticamente – e com números – o rosário de preconceitos, violências e abusos que convivemos diariamente no Brasil, mas com um tom essencialmente otimista, apesar do peso das palavras usadas. Um discurso parente da recente fala do presidente uruguaio José Mujica na Assembléia da ONU.

Poder econômico investe no Congresso e pode encolher bancada de trabalhadores

Diap alerta sobre movimentação de empresários, ruralistas, evangélicos e celebridades para ocupar cadeiras no Parlamento; e para o risco de bancada dos trabalhadores encolher
Composição atual do Legislativo pode sofre renovação de 61% em 2014, segundo estimativa do Diap
Brasília – Os próximos 12 meses são de observação e cautela por parte dos representantes dos trabalhadores no Legislativo. Será necessearia uma forte articulação entre partidos e entidades diversas (como os sindicatos), com apoios aos parlamentares que representam os trabalhadores, para que o tamanho dessa bancada não fique cada vez menor na Câmara dos Deputados e no Senado. As bancadas dos evangélicos e do empresariado se preparam para voltar renovadas e em número bem maior no pleito de 2014.

Noam Chomsky e o labirinto americano

Ele sustenta: na Síria, Washington adotou lógica da Máfia, e perdeu; no Congresso, Obama é vítima da ultradireita, que age como os nazistas
Entrevista a Harrison Samphir, no Znet | Tradução: Vinícius Gomes | Imagem de HikingArtist
Noam Chomsky é, aos 84 anos, um dos maiores intelectuais no mundo. Seu trabalho e suas realizações são bem conhecidos – ele é linguista norte-americano, professor emérito no Massachussets Institute of Technology (MIT) há mais de 60 anos, analista e ativista político constante, crítico original do capitalismo e da ordem mundial que tem como centro os Estados Unidos
Nesse entrevista, Chomsky debate a paralisação do governo norte-americano, por disputas incessantes no sistema político e, em especial, chantagem das forças de direita mais primitivas. Também aborda os sinais de perda de influência de Washington na Síria e da emegência, na América do Sul, de um conjunto de governos que afasta-se dos EUA, pela primeira vez em dois séculos.

Por uma vida sem catracas

Um “parceiro que a rua literalmente me deu” (axé, galera intrépida que fez épica a esquina inesquecível!), o bravo Ernesto me presenteou com este desenho que ele mesmo fez. Porque ficou sensibilizado com a admiração que nutro por este slogan-síntese do levante da multidão desde que tudo começou. Em sua grandeza ontológica, para mim essas cinco palavras dizem tudo sobre as motivações profundas do ingresso dessa geração bela, altruísta e indomável na ação política direta. Traduzem a revolta contra tudo que as cidades, a “ordem” e o “sistema” negam aos pobres em geral e aos jovens pobres em particular.

Revolta, não ressentimento. A revolta é alegre, positiva, fecunda, generosa, liberadora. O ressentimento é triste, negativo, estéril, mesquinho, aprisionador. Hoje o ressentimento é apanágio dos aparelhos esquerdoides com sua tara em “pautar”, “organizar”, “disciplinar”, verticalizar, cooptar, subordinar, parasitar. E também de uma intelectualidade genuflexa, de aluguel, cúmplice da repressão, que espuma sua ira diante de uma realidade pulsante que não cabe nos risíveis jargões, esqueminhas e “marcos teóricos” em que se viciou.

Neste 12 de outubro, parabéns a todas as crianças que trabalham

Hoje é Dia das Crianças. Data comercial, menos importante economicamente que o Natal, o Dia das Mães e o Dia dos Namorados (nessa ordem) mas, ainda assim, com um significado para muita gente – e, portanto, a ser respeitada. Mas enquanto alguns desembrulham seus carrinhos e bonecas (ou videogames, celulares e iPods), outros vão passar o sábado trabalhando. No máximo, darão uma paradinha para ir à missa, devido a hoje também ser o Dia da Padroeira do Brasil.
As Nações Unidas estipularam a meta de acabar em 2016 com as piores formas de exploração infantil. Não vai dar. Nem lá fora, nem aqui. Apesar da queda no trabalho infantil no Brasil e dos avanços em vários cantos do mundo, não temos agido com a velocidade necessária para combater a miséria e a pobreza (que empurram crianças para a degradação e não garante oportunidades de educação, cultura, lazer, saúde, enfim, dignidade), a impunidade (que garante a certeza de liberdade para quem rouba a infância) e a ganância (a facilidade de ganho fácil de quem explora esse tipo de mão de obra barata em suas cadeias produtivas).
Para cumprir a meta proposta, seria necessário se retirar do trabalho infantil as mais de 168 milhões de crianças e adolescentes ainda envolvidos no problema em 2012 – 85 milhões das quais nas piores formas de trabalho. Em 2000, o número global era de 246 milhões de crianças e adolescentes. Segundo Tereza Campello, ministra do Desenvolvimento Social, há 2 milhões de jovens acima de 16 anos trabalhando no Brasil, além de 1,5 milhão com menos de 16 anos.
Cansei de ouvir e presenciar histórias dessas crianças e adolescentes nos últimos anos. É menina subindo em boleia de caminhão em posto de gasolina entre o Tocantins e o Maranhão, adolescente explorada sexualmente para benefício dos trabalhadores das obras da usina de Belo Monte, crianças libertadas na produção de frutas, batata, cebolas, entre outros, no rico interior de São Paulo, menino que perdeu a visão ao tropeçar na colheita de cacau, crianças quebrando pedras para sobreviver, trabalhando em residências em tempo integral… Conto duas delas:

Oficinas sobre elaboração e gestão de produtos culturais em Aracaju (SE) e Natal (RN)

Ações gratuitas integram o programa de capacitação artística e técnica em dança da Funarte

11 de outubro de 2013

"Governos dos EUA, Inglaterra e Canadá mentem o tempo todo"

Glenn Greenwald
Brasília - A afirmação é do jornalista britânico Glenn Greenwald, correspondente do jornal The Guardian, ouvido pela CPI da Espionagem, do Senado, nesta quarta (9/10). Greenwald reafirmou que os governos dos Estados Unidos, Canadá e Inglaterra têm coletado informações de países em desenvolvimento movidos por interesses econômicos. "Sem dúvida não estão preocupados com segurança nacional ou terrorismo, como sempre alegam, mas em obter vantagens comerciais para suas empresas".

Para Glenn Greenwald, os governos desses três países têm feito o que sempre acusam a China de fazer. “A China espiona seus parceiros comerciais, mas esses governos têm usado o discurso da segurança para justificar seu aparato de espionagem". O jornalista disse que analisou apenas cerca de 2% do material obtido com o ex-colaborador da Agência de Segurança Nacional norte-americana (NSA), Edward Snowden, exilado na Rússia desde 1º de agosto.

10 textos para 20 vozes

Mais uma dica da Laila (www.twitter.com/lailabou). Feito por Marcelo Noah e Isabel Ramil, este vídeo bacanérrimo intitulado Vozes traz textos / falas / qualquer coisa semelhante lidos pelos próprios autores. Não consegui identificar todas as obras – os ruídos do dadaísmo de Schwitters e do surrealismo de Artaud me deixaram tão desorientado quanto o russo de Maiakóvski. Em outros casos, arrisquei um palpite, embora tenha continuado em dúvida. Se alguém puder me ajudar a completar as lacunas, agradecerei.






Para compensar minha ignorância, transcrevi e aumentei alguns dos trechos lidos, os que valiam mais a pena. Na ordem do vídeo:
1) America, de Walt Whitman
“Centre of equal daughters, equal sons, All, all alike endear’d, grown, ungrown, young or old, Strong, ample, fair, enduring, capable, rich, Perennial with the Earth, with Freedom, Law and Love, A grand, sane, towering, seated Mother, Chair’d in the adamant of Time.”
2) Kurt Schwitters – ?
3) Pneumotórax, Manuel Bandeira
“Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos. A vida inteira que podia ter sido e que não foi. Tosse, tosse, tosse. Mandou chamar o médico: — Diga trinta e três. — Trinta e três… trinta e três… trinta e três…— Respire .
………………………………………………………………………………………………… — O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado. — Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
 — Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.”

Onde está o conhecimento agora?

Pergunta provocativa do Nicholas Carr sobre se o Google está nos tornando estúpidos, desenvolvido em seu livro "Superficiais", encontra sua melhor réplica se atualizado sobre as últimas do David Weinberger: Too Big to Know ("incompreensível") . Um livro essencial para compreender o impacto da Internet no conhecimento.

Weinberger , um dos pensadores mais importantes da cibercultura, não fica atrás quando se trata de causa e faz com que o subtítulo do seu livro em um pequeno manifesto: "repensar o conhecimento agora que os fatos são os fatos, os especialistas estão em em todos os lugares, e a pessoa mais inteligente da sala é a sala".

O trabalho eleva o conhecimento do processo de deslocamento de livros, especialistas e instituições para as redes e comunidades online. A ciência continua a ser um sistema de publicação, que opera através da eliminação e se torna uma rede que funciona através da dissolução das fronteiras entre obras de adição (hipertexto), abrindo a porta para novas vozes (Wikipedia) e as paredes da academia (cursos on-line para as massas).

Tendo os livros encadernados como paradigma do conhecimento refinado (ameaçado na visão de Carr para o excesso de redes) , Weinberger entende, paradoxalmente, que a única resposta para a sobrecarga de informação é obter mais informações (metadados), e que precisamente as redes, são muito mais adequadas do que os livros para construir, ampliar e revisar o conhecimento.

por José Luis Orihuela

tradução por Tiago Aguiar

Até as pedras mudam


É interessante imaginar que a maior das montanhas, aquela formação rochosa milenar, por mais que imóvel no mesmo lugar, nunca é a mesma. O tempo e o vento nunca a deixaram de esculpir, de forma que o desenho que vemos hoje não é o mesmo de mil anos atrás. Que mesmo aquele escalador, ao derrubar pedregulhos em sua passagem, já alterou a montanha. É claro que a montanha não deixou de ser montanha. Ela ainda existe, está lá. Mas algo nela já não é mais o mesmo.
Sabe-se lá o que a pedra que vemos hoje será amanhã. Daqui a alguns anos é possível que ela se dissolva em farelos. Que vire outra coisa. Até nosso continente, o chão onde pisamos, já teve outro desenho – por que uma simples pedra estaria imune a mudanças?

Por um Brasil 2.0.

No novo marco da internet brasileira e no quadro do enfrentamento da espionagem cibernética norte-americana e de outros países anglo-saxônicos, como se descobriu, agora, no caso do Canadá, é preciso tomar cuidado com o que se está falando, fazendo e propondo.

Se pretende ter papel ativo no estabelecimento de um marco internacional para a internet, o Brasil não pode - por açodamento ou desinformação - adotar ou apresentar propostas inócuas, como a de tornar obrigatória a hospedagem, por empresas internacionais, de dados de cidadãos brasileiros em servidores situados em território nacional.

Estejam onde estiverem, os servidores continuarão a ser operados pelas próprias empresas - a não ser que o governo passe a co-administrar o Google, o Facebook ou a Microsoft no Brasil, o que é tão improvável como ilegal. Se a empresa quiser (ou um diretor seu, ou um simples funcionário) bastará repassar os dados requeridos para governo norte-americano, após recolhê-los em seus servidores instalados em território brasileiro.

O Sexo dos Brinquedos

por Ricardo Heavyrick



Aproveitando a proximidade do fantasioso dia das crianças, vamos falar sobre brinquedos.

Certamente você já entrou em alguma loja de brinquedos para comprar algum agrado para suas filhas, netas, sobrinhos, irmãozinhos, priminhos, e certamente percebeu que o corredor rosa é onde ficam os brinquedos das meninas e o corredor azul é onde estão os brinquedos dos meninos.
Queria entender um pouco do por que dessa categorização e o que ela acarreta na sociedade. Antes disso, porém, entrei em alguns sites que vendem brinquedos para entender mais ou menos em quais estantes ficam quais brinquedos, ou seja, quais são considerados os brinquedos de meninas e os de meninos.

Marajás no Congresso